Paraisópolis, São Paulo, Brasil
“(...) de um lado estão aqueles que consideram
que os homens são mais iguais que desiguais, de outro os que consideram que são
mais desiguais que iguais”.
Norberto BOBBIO, Direita e esquerda, 2001, p. 121.
Esquerda
e direita não são apenas os dois lados de uma mesma moeda. A diferença entre
ricos e pobres não se expressa na dicotomia política esquerda/direita. Se assim
fosse a imagem acima seria apenas uma imagem de algum filme de ficção, uma vez que seria
impossível a existência, num regime
democrático, de um espaço tão contrastante em termos econômicos, dada a maioria
daqueles que estão do lado esquerdo do muro.
Em tempos
de copa, de hino cantado a plenos pulmões, de vaias e palavrões, de borrachadas
e gás pimenta, alguns mandando "tomar no c..." e outros dizendo que isso faz parte da "elite branca paulistana", certos conceitos políticos fundamentais começam a se confundir e
a se relativizar ao sabor das paixões, principalmente nas redes sociais, que já
provaram sua influência política não só aqui como em outras partes do mundo.Enfim,o que significa realmente
esquerda e direita na política ?Quem é de esquerda e quem é de direita ?
Ser de
direita ou de esquerda não significa apenas estar na direita ou na esquerda
segundo uma atribuição de valores puramente econômica: ricos são de direita e
pobres são de esquerda. A opção política não se define apenas pela condição
econômica do indivíduo. O fato de ter ou não ter capital não significa ser ou
não ser de esquerda ou de direita.
Contrariando
o senso comum, muitos daqueles “que tem” são de esquerda. Engels era filho de
industrial. Sua opção política não era racional, baseada na herança do capital
paterno mas sim emocional, tocada pela angústia que lhe causava a condição subumana
que os capitalistas, como seu pai, imprimiam aos trabalhadores da Inglaterra do
séc. XIX.
De
forma semelhante - e paradoxal, posto que inexplicável do ponto de vista
racional - muitos daqueles “que não tem” são de direita. E defendem sua opção política
com muita fé, paixão e consciência. A cada eleição, muitos representantes políticos
de direita são eleitos e reeleitos - inclusive para os cargos do executivo.
Como isso é possível se a maioria dos eleitores é composta por aqueles “que não
tem” e portanto “deveriam” ser de
esquerda ?
A resposta
à essa pergunta por parte daqueles da esquerda (e principalmente por aqueles da
esquerda “que tem”) seria simplesmente a afirmação de que o povo não sabe
votar. Já por parte daqueles da direita (“que tem”) essa resposta seria
simplesmente a afirmação de que o povo (aqueles que “não tem” e optaram por ser
de direita) dá a sua resposta nas urnas à bandalheira, à corrupção e ao desgoverno de uma ex-esquerda "traidora", que agora "tem", e muito !.
Enfim,
será que nós - tanto faz se da esquerda ou da direita, desde que tenhamos a firme
convicção de não aceitar respostas prontas - podemos nos contentar apenas com as
respostas e argumentos baseados no senso comum, tanto daqueles de direita
quanto daqueles de esquerda ?.
“De esquerda”
são aqueles que consideram e buscam a igualdade social entre os homens, aqueles que
valorizam a cooperação, a solidariedade, a comunidade, a coletividade e a defesa dos direitos humanos e das minorias. “De direita”
são aqueles que justificam a desigualdade social pela meritocracia, pelo esforço
individual, pelas habilidades desenvolvidas, pela competência técnica e
abominam a perda de tempo, a ociosidade, a "preguiça"; de direita são aqueles valorizam a competição, a
individualidade e a intolerância ao erro. Ou seja, é fácil reconhecer quem é de direita
e quem é de esquerda...
Portanto, se a diferença entre esquerda e direita se resumisse apenas à diferença entre
ricos e pobres, a imagem acima seria apenas a de um filme de ficção. Se a maioria
dos indivíduos de classe baixa fossem de esquerda, mesmo que todos os ricos
fossem de direita, não existiriam mais favelas (e nem mansões). Nessa situação
hipotética, a maioria do povo, ao eleger seus representantes da esquerda para
todos os governos em todos os níveis, levaria ao fim (ou ao menos a uma
drástica diminuição) da desigualdade aqui no país mais desigual do mundo. Nesse caso, uma imagem como essa, em
tese, deixaria de existir. Mas isso é apenas uma conjectura. O que é fato é que
nem todo rico é de direita e, principalmente – e é preciso que tenhamos a
consciência disso - a maioria dos indivíduos de classe baixa e média baixa também
são de direita, por convicção.