domingo, 20 de setembro de 2015

A globalização das batatas

             O vídeo "Você nunca mais vai comer batata frita do McDonalds depois de assistir isso" do ativista Michael Pollan é muito interessante pois a discussão não é sobre batatas. 
             O exemplo das batatas fritas do McDonald's é apenas um pretexto para que se discuta o nosso modelo de economia e sociedade, onde as corporações globais não mais apenas disputam mercados, mas criam mercados ao criarem demandas a partir da criação de desejos.
            O desejo pela "batatinha X" ou pelo "tênis Y" ou pelo "carro Z" força a criação da citada "economia de escala com ineficiência", como diz Pollan. 
            A padronização global dos desejos de consumo permite a produção em escala, a redução de custos, a maximização dos lucros e as consequentes concentração de renda e geração de externalidades (ambientais e sociais).
A economia de escala com ineficiência é ineficiente não porque deixa de atingir os objetivos mercadológicos propostos. Ao contrário, sob este ponto de vista, é uma estrutura que garante altos lucros.  
           Esta ineficiência advém do fato de que este tipo de  "eficiência econômica imediatista" é disfuncional, do  ponto de vista sistêmico, ao próprio capitalismo. Considerando que o trabalho humano (ainda) é fundamental no capitalismo e que a qualidade da mão-de-obra depende - como sempre dependeu - da saúde do trabalhador, então a eficiente economia de escala dada por esse insalubre sistema produtivo gera, a médio prazo, a citada ineficiência sistêmica.
          Os sintomas dessa ineficiência já são sentidos, principalmente onde a eficiência econômica (ou seja a alta produtividade) é observada. Veja por exemplo o caso do aumento da obsesidade na população estadunidense. Lá este problema é tão grave que impacta negativamente no sistema de saúde e nas contas públicas. Ou seja, a eficiência econômica provoca um problema de saúde pública que acaba minando os recursos (econômicos) para o sistema de saúde. A eficiência gera ineficiência.  Essa situação coloca Adam Smith, o papa do liberalismo econômico, de cabeça pra baixo. Podemos dizer que os  benefícios privados (os lucros empresariais, no âmbito da microeconomia) geram vícios públicos (a sangria dos recursos públicos, no âmbito da macroeconomia). Essa situação trava os sistemas de saúde norte-americanos, incha a previdência, onera absurdamente as contas públicas, gerando crise econômica e social e impossibilita, em última instância, a própria maximização da exploração do trabalho pelo capital, uma vez que o trabalhador - cada vez mais doente - ainda é, apesar de todos os muros derrubados, o principal objeto da exploração capitalista.
         As grandes corporações são cegas e sedutoras o bastante para fazerem proliferar suas campanhas de marketing global para a padronização dos gostos, da produção, com a consequentemente redução de custos e maximização dos lucros. O mundo corporativo e publicitário segue criando, usando e abusando seus apaixonantes e premiados slogans globais. "I'm loving it" foi lançado pela corporação citada no vídeo na Alemanha, em 2003. O famoso "Just do it" de outra mega corporação, ou ainda o emblemático "Open happiness" de outra gigante global são alguns dos mais belos exemplos desse nosso novo mundo. 
          Enfim, continuemos a seguir nessa contramão histórica, política, social e, como vemos, também econômica, cujo destino final não é outro senão o abismo.
               E ao vencedor - se sobrar algum -as batatas!

Veja o vídeo "Você nunca mais vai comer batata frita do McDonalds depois de assistir isso", com Michael Pollan, em:   https://www.youtube.com/watch?v=rbZBJT358_Y

A vacina da educação libertadora.

 
          Os membros da classe média acreditam que pertencem à uma subclasse burguesa e que, portanto, estão longe da classe operária. Esse é, aliás, o coração da ideologia burguesa. É aquilo que a faz perpetuar-se. Esses cidadãos não admitem, em hipótese, ser identificados como membros da classe operária, como uma parte do proletariado que é bem remunerada, claro, mas ainda assim, classe operária. Os assalariados que ganham bem, tanto faz se são médicos, engenheiros, advogados, ganham bem apenas por uma questão de mercado; ganham bem pelo fato de que a mercadoria que vendem no mercado (ou seja, a sua mão-de-obra qualificada) tem maior valor no mercado de trabalho apenas por ter maior valor agregado do que aquela de seus companheiros de classe menos qualificados, os operários. 
       Os cidadãos que se consideram de classe média não conseguem admitir o fato de que não deixam de ser proletários, apesar de ganharem mais, bem mais em certos casos, que os operários clássicos. O que caracteriza um proletário não é a renda, mas sua condição de não proprietŕio dos bens de produção, ou seja, condição de assalariado, de vendedor de sua força de trabalho, seu único produto. Ora, o que é um indivíduo de classe média senão um operário bem remunerado? Quem tem mais medo de perder o emprego é o indivíduo de classe média, não o de classe baixa. Esse, se perder um, arranja outro, ou vai fazer bico. Agora o empregado de classe média... É isso que mais lhe aflige.
       Dentro da classe burguesa existem óbviamente vários níveis de burgueses, dado pelo tamanho de seu capital, mas todos são burgueses. E dentro do proletariado não é diferente; existem proletários que ganham somente o suficiente para o seu sustento e aqueles que ganham muito. Claro que os primeiros são a esmagadora maioria. Há ainda, e cada vez mais, aqueles que nem proletários são, os marginalizados, os desclassificados, aqueles que estão fora da brincadeira do capitalismo, sobrevivendo da caridade e sendo multiplicados cada vez mais pelo sistema, na proporção da concentração de renda.   
        Portanto, quando a distância que separa os "pobres" dos "de classe média" diminui e aqueles começam a usufruir de alguns dos medíocres privilégios outrora exclusivos aos medianos (como "andar" de avião, "ter" empregada), os "de classe média" percebem sua real condição - ainda que no plano inconsciente - e entram em pânico. A reação irracionl a essa situação conflitante é a ação odienta e odiosa dos chamados reacionários, elite branca burguesa, coxinhas, entre outros apelidos. Aumenta a xenofobia, o preconceito, a miopia política, a venda de ansiolíticos e antidepressivos, a venda de revistas de auto-ajuda do tipo Você S/A, o massacre conservador da mídia,  a competição insana, insalubre e improdutiva presente nos atuais escritórios envidraçados da Berrini, Paulista e adjacêcias, a proliferação de um consumismo que legitima valores de troca para muito além dos valores de uso, como por exempo: R$ 200 por kg de chocolate de uma certa marca, R$ 40 por uma modesta refeição num simples self-service, R$ 11 num ridículo sorvete de palito com creme dito latino, R$ 22 num misto quente gourmet, R$ 4.000 num celular, R$ 15.000 numa festinha do filho num modesto buffet infantil, etc. Tudo isso são indicadores sintomáticos de uma doença contemporânea que se espalha como epidemia e que pode ser diagnosticada como "classimedite crônica".
      Não se sabe se essa doença é congênita ou se é adquirida por contato social.  Aparentemente há um componente herdado - embora em alguns casos isso não se confirma, dada a origem modesta do infectado, o que intriga ainda mais a ciência. Mas certamente o componente social é decisivo para ativar essa síndrome. O que se sabe é que, por enquanto, é uma doença incurável nos organismos infectados. Apesar disso, há um esforço tremendo na busca pelo tratamento desses indivíduos - que são altamente resistentes a qualquer tratamento proposto. O tratamento pode não surtir efeito nos infectados, que ao que parece, estão condenados a sofrer dessa anomalia até o fim de seus dias, mas certamente é a melhor prevenção da ocorrência dessa aberração nas próximas gerações. Esse tratamento é a vacina da educação libertadora.