quarta-feira, 22 de junho de 2016


Um vendedor exibe a "mercadoria" em festival de culinária no sul da China
Sob protestos, cidade chinesa começa o maior festival de carne de cachorro do mundo


Comer cachorro é um absurdo!...não é mesmo?.
Mas na China, comer cachorro é um hábito alimentar de sua cultura. Na Índia, comer picanha de vaca como muitos fazem todo final de semana e pisar na cabeça de cobra são sacrilégios que impedem que o hindu consiga atingir moksha.
 Em Israel (ou em qualquer país árabe, amigo ou inimigo do povo escolhido), comer costeleta de porco é pecado.
Ursos e búfalos eram sagrados para os nativos da América do Norte. São os mesmos animais abatidos por estratégia pelos valentes pioneiros do Oeste americano e hoje, por esporte, por milionários texanos e cantores de rock metálicos. Todos estes brancos, quase sempre bisnetos daqueles heróis que exterminaram tanto os búfalos e ursos das planícies sagradas e florestas temperadas quanto os seus adoradores, os primitivos índios Cheyenne, Sioux, Comanches e Apaches.
Lobos e raposas eram sagrados para os povos selvagens da Europa.  São os mesmos animais submetidos à crueldade e escárnio até hoje, tanto em histórias infantis quanto em caçadas injustas e nababescas promovidas por nobres ociosos e reis tiranos, gente da mesma laia que daqueles que expulsaram do sacrossanto território da Europa central os bárbaros adoradores desses bichos que representam o perigo, a violência e a astúcia ardilosa.
Leões e elefantes são sagrados para quase todos os povos africanos. São os mesmos animais caçados hoje por civilizados dentistas e CEOs do ocidente nas savanas africanas, enquanto estão nos safáris, em férias de suas corporações - que são as mesmas que exploram há séculos as riquezas e os povos daquele continente, os negros Masai e Camaroneses, entre centenas de outros, adoradores de leões e elefantes.
Tatu e onça pintada são sagrados para quase todos os povos indígenas brasileiros. Hoje, enquanto, com uma das mãos, servimos aos gordos fazendeiros goianos o tatu recheado com cenoura e vinho branco, com a outra mão - a mão oficial, estatal do exército brasileiro - abatemos nossa onça Juma com um tiro certeiro, após tê-la usado de ornamento na peça publicitária global sobre a brasilidade cordial do maior país católico do mundo, após a celebração midiática de um ritual pagão em homenagem aos deuses gregos do olimpo. Enquanto isso, jorram do legislativo e judiciário, leis e execuções de restrição das poucas terras que ainda restam aos tataranetos daqueles mesmos indígenas massacrados, Tupinambás, Tamoios, Nambiquaras, Tapuias, nossos próprios ancestrais. 
E por trás das legitimadas cortinas da promoção oficial do etnocídio de Estado, jagunços de resistentes coronéis do séc. XXI continuam a abater curumins e cunhatãs nas florestas do país - logo após de estuprá-los, evidentemente - da mesma forma com que o Estado brasileiro abateu a coitada da onça Juma após estuprar sua natureza acorrentada. E nas cidades, debaixo de viadutos, nos sopés de picos ou em bancos de praça,  os filhos daqueles que promovem a justiça, a lei, a ordem e o progresso neste país ateiam fogo nos caciques confundidos com mendigos, enquanto o povo permite que sejam todos – índios, onças, cachorros, mendigos, direitos, democracia e vergonha - abandonados à própria sorte.      
Mas eu amo cachorro ok?. O meu chama-se Fluck. E é muito fofo!