Competência, competição, mérito, trabalho, recompensa e consumo. Estes são os valores centrais do capitalismo.
O sistema precisa a todo momento reafirmar a sua ideologia a fim de conquistar e manter milhões de corações e mentes presas a seus valores para, dessa forma, continuar gerando lucro para os donos do capital.
Para tanto, nada melhor que jovens garotos propaganda que corporificam tais valores de forma natural e os disseminam na audiência global por meio de um torneio esportivo mundial.
Entre estes jovens há também alguns mais idosos, muitos negros e alguns homoafetivos. Tudo muito adequado à propagação de uma ideologia pretensamente democrática e liberal, que não impede a ascenção de minorias aos poncaros da glória, fama e poder que só o dinheiro, suado e merecido pelo esforço do trabalho competente pode oferecer em um sistema competitivo, meritocrático e justo, que é como o capitalismo se esforça para se demonstrar.
A Copa do Mundo e as Olimpíadas são os outdoors máximos do capitalismo. São mega campanhas bienais que encantam bilhões almas que colocam seus braços e cérebros à postos para movimentar a fábrica do patrão chamado Capital. A Eurocopa, a F1, o UFC, e todas as outras modalidades esportivas globais e também todas as locais, como o Paulista, o Brasileirão, a Copinha, reforçam anualmente a necessária propaganda do sistema; que se reproduz também no interclasse da escola das crianças e no rachão do campinho da vila.
Os atletas globais são os gladiadores master nos seus respectivos circos. Se esforçam, treinam, se superam de lesões, alguns até morrem em campo, como o Ayrton. São heróis, mártires, exemplos a serem seguidos pelos milhões de garotos e garotas em todo canto do planeta. E pelos adultos também, principalmente os adultos infantilizados, que são a esmagadora maioria.
Os atletas ganham muito bem para executarem essa importante função. Na verdade, nem sabem (e é bom que nem saibam mesmo) que a executam. E, é claro, gastam também bastante, e de forma exagerada - claro, exagerada pelos parâmetros modestos dos bilhões de mortais que os glorificam. Sim, eles ostentam sua glória. Afinal, sofreram muito para "chegar lá". Às vezes são debochados, insensiveis ou até mesmo desrespeitosos com o sofrimento alheio. Mas, e daí? "Faça os seus corre. Eu suei muito pra chegar onde estou. Se eu consegui, vc tb consegue". Essa é a mensagem de toda a propaganda capitalista.
E ela cola! As pessoas realmente valorizam as conquistas dos seus mitos e acreditam que podem conseguir também, desde que trilhem a árdua jornada do seu herói. Jornada essa sempre bastante conhecida, contada e recontada nos botecos, reproduzidas e complementadas a partir da mesma fonte, a mesma mídia, que é claro, também executa o seu papel fundamental. São mantras sagrados do sucesso. A estrada dos tijolos dourados é cheia de percalços e, no fim, o Mágico de OZ lhe dirá que seu sucesso do depende de você mesmo. Você S/A.
Por tudo isso, eu não posso concordar com os discursos que pretendem crucificar o comportamento destes garotos propaganda globais, de origem humilde e ora bem sucedidos.
Se fazem dancinhas debochadas ou se comem carne com ouro no Catar, isso é um comportamento normal destes ícones no contexto deste sistema.
O que deveria ser alvo de críticas é exatamente o próprio sistema capitalista, deplorável e desumano.
Esse mesmo sistema que cria e alimenta uma esquerda inofensiva, pulverizada, desunida, desfocada, cosmeticamente raivosa e muito, mas muito despreparada intelectualmente. Uma esquerda que se vangloria de ser diversa, de ser "as esquerdas", quando na verdade é exatamente essa a sua maior fraqueza. Onde estão os líderes dessa galerinha que, quando não está fazendo ciranda em prol dos direitos da baleia azul ou do banheiro escolar unissex, perde tempo e energia atacando os espantalhos (sem cérebro) do sistema, quando deveria mesmo era se juntar para derrubar o charlatão do Mágico de OZ.
Portanto, deixem os meninos em paz. E vamos fazer a revolução! Que tal? Alguém aí topa?
... Hello?