quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Sobre dancinhas e carne com ouro no Catar.

 



Competência, competição, mérito, trabalho, recompensa e consumo. Estes são os valores centrais do capitalismo.  

O sistema precisa a todo momento reafirmar a sua ideologia a fim de conquistar e manter milhões de corações e mentes presas a seus valores para, dessa forma, continuar gerando lucro para os donos do capital. 

Para tanto, nada melhor que jovens garotos propaganda que corporificam tais valores de forma natural e os disseminam na audiência global por meio de um torneio esportivo mundial. 

Entre estes jovens há também alguns mais idosos, muitos negros e alguns homoafetivos. Tudo muito adequado à propagação de uma ideologia pretensamente democrática e liberal, que não impede a ascenção de minorias aos poncaros da glória, fama e poder que só o dinheiro, suado e merecido pelo esforço do trabalho competente pode oferecer em um sistema competitivo, meritocrático e justo, que é como o capitalismo se esforça para se demonstrar. 

A Copa do Mundo e as Olimpíadas são os outdoors máximos do capitalismo. São mega campanhas bienais que encantam bilhões almas que colocam seus braços e cérebros à postos para movimentar a fábrica do patrão chamado Capital. A Eurocopa, a F1, o UFC, e todas as outras modalidades esportivas globais e também todas as locais, como o Paulista, o Brasileirão, a Copinha, reforçam anualmente a necessária propaganda do sistema; que se reproduz também no interclasse da escola das crianças e no rachão do campinho da vila. 

Os atletas globais são os gladiadores master nos seus respectivos circos. Se esforçam, treinam, se superam de lesões, alguns até morrem em campo, como o Ayrton. São heróis, mártires, exemplos a serem seguidos pelos milhões de garotos e garotas em todo canto do planeta. E pelos adultos também, principalmente os adultos infantilizados, que são a esmagadora maioria. 

Os atletas ganham muito bem para executarem essa importante função. Na verdade, nem sabem (e é bom que nem saibam mesmo) que a executam. E, é claro, gastam também bastante, e de forma exagerada - claro, exagerada pelos parâmetros modestos dos bilhões de mortais que os glorificam. Sim, eles ostentam sua glória. Afinal, sofreram muito para "chegar lá". Às vezes são debochados, insensiveis ou até mesmo desrespeitosos com o sofrimento alheio. Mas, e daí? "Faça os seus corre. Eu suei muito pra chegar onde estou. Se eu consegui, vc tb consegue". Essa é a mensagem de toda a propaganda capitalista. 

E ela cola! As pessoas realmente valorizam as conquistas dos seus mitos e acreditam que podem conseguir também, desde que trilhem a árdua jornada do seu herói. Jornada essa sempre bastante conhecida, contada e recontada nos botecos, reproduzidas e complementadas a partir da mesma fonte, a mesma mídia, que é claro, também executa o seu papel fundamental. São mantras sagrados do sucesso. A estrada dos tijolos dourados é cheia de percalços e, no fim, o Mágico de OZ lhe dirá que seu sucesso do depende de você mesmo. Você S/A. 

Por tudo isso, eu não posso concordar com os discursos que pretendem crucificar o comportamento destes garotos propaganda globais, de origem humilde e ora bem sucedidos. 

Se fazem dancinhas debochadas ou se comem carne com ouro no Catar, isso é um comportamento normal destes ícones no contexto deste sistema. 

O que deveria ser alvo de críticas é exatamente o próprio sistema capitalista, deplorável e desumano. 

Esse mesmo sistema que cria e alimenta uma esquerda inofensiva, pulverizada, desunida, desfocada, cosmeticamente raivosa e muito, mas muito despreparada intelectualmente. Uma esquerda que se vangloria de ser diversa, de ser "as esquerdas", quando na verdade é exatamente essa a sua maior fraqueza. Onde estão os líderes dessa galerinha que, quando não está fazendo ciranda em prol dos direitos da baleia azul ou do banheiro escolar unissex, perde tempo e energia atacando os espantalhos (sem cérebro) do sistema, quando deveria mesmo era se juntar para derrubar o charlatão do Mágico de OZ. 

Portanto, deixem os meninos em paz. E vamos fazer a revolução! Que tal? Alguém aí topa?


... Hello?

quinta-feira, 1 de julho de 2021

A bibliotecária, o menino e o seu dedão.

    Contava os 11 anos quando, numa bela tarde, fui obrigado a abandonar a pelada no asfalto com os amigos da rua e fui para casa manquitolando, com a tampa do dedão aberta por aquela bola dividida com o Carlinhos. No caminho de casa havia, ou melhor, há até hoje, uma Biblioteca infanto-juvenil Municipal. Sentei-me na escadinha, bem na porta da biblioteca, a fim de ajeitar o dedão sanguinolento para a árdua jornada de quatro quadras até minha casa. Então surgiu por detrás dos meus ombros uma figura que acabou se tornando alguém muito especial para mim. Era uma senhora baixinha e simpática, que, apoiada em duas muletas, abriu um largo sorriso e me perguntou carinhosamente:

    - Olá menino, o que houve? posso ajudar? Eu me chamo Leila. Qual o seu nome?

    - Oi Sra! Obrigado! Eu me machuquei jogando bola. Me chamo Márcio - respondi.

    - Venha para dentro Márcio e vamos colocar Merthiolate e um curativo aí nesse dedão, tá?

    Curiosamente, pela primeira vez em 12 anos eu não fugi do Merthiolate. Sempre havia preferido o risco de uma infecção gangrenosa ao ardor passageiro daquele antisséptico tenebroso. Também não fugi daquele espaço – cheio de livros, que lembravam a escola… aaargh! - que estava prestes a adentrar. Na verdade, a dor no dedão e a generosidade daquela Sra. me cegaram para este pequeno detalhe: estava entrando em uma biblioteca! 

    Enquanto a D. Leila, a bibliotecária, fazia um curativo no meu dedão, eu comecei a ler um dos livros que estava sobre sua mesa. Era "O Conde de Monte Cristo" de Alexandre Dumas. Ao tempo de finalizar o curativo eu já havia lido umas 10 páginas daquele livrão que parecia uma Bíblia de tão grosso. Eu nunca havia me atrevido a ler um livro daquele tipo. um livro tão grande... e só de letras!

    Percebendo meu interesse naquela leitura, D. Leila me disse que eu poderia levar o livro, mesmo sem ter a carteirinha da Biblioteca, mas com a condição de voltar no dia seguinte para fazê-la e dessa forma me tornar sócio. Sócio! Veja só: eu seria sócio de uma biblioteca!

    Pra resumir o enredo, a partir daquele tarde eu passei quase todas as tardes dos próximos 2 anos lendo os livros daquelas prateleiras, que se tornaram mágicas para mim. E me lembro com muito carinho dos momentos que passei ouvindo as histórias contadas pela D. Leila nos momentos em que ela, percebendo minha avidez em escolher o próximo livro, aliada à minha inorância de leitor iniciante, vinha me contar alguma história, de cabeça: Dorothy, Alice, Capitão Flint, Capitão Aab, Capitão Nemo, Dom Quixote, Sanho Pança, Jean Valjean, Dartagnan, Hercule Poirot, Dr. Jeckil, Dr. Frankenstein. Eram tantas histórias, tantos personagens mágicos… eram doces drops da literatura universal, trailers de aventuras sem fim que atiçavam ainda mais minha vontade de ler.

            D. Leila se esforçava bastante para alcançar certos livros nas prateleiras mais altas, já que era PcD. Ela havia sido uma vítima da poliomielite que, em sua época de infância, fez milhares de brasileirinhos sofrer com esse mal, que poderia ter sido facilmente evitado pela ação eficaz do governo nas áreas de saúde e educação. Eu trepava na cadeira para pegar aqueles livros indicados por ela para depois ficarmos ali, durante algumas horas, cada um lendo o seu livro, no silêncio daquelas tardes distantes naquele templo do saber. 

      Enfim, foi ali também que conheci Orwell, Huxley, Morus, Goethe, Kafka, Hemingway, Tolstoy, Cervantes, Dante... e Marx, Aristóteles, Maquiavel, Rousseau, Montesquieu, Camus, Sartre, Nietzsche, Pessoa, Machado... 

   Enfim, essa é a história de um dedão arrebentado que, tratado com amor e carinho por alguém que fazia muito mais do que sua rotina de cartório, acabou por criar um leitor compulsivo e um professor apaixonado.

Onde quer que esteja, obrigado D. Leila. 


domingo, 17 de março de 2019

História descomplicada

Um artigo publicado na BBC Brasil intitulado "O filosofo muçulmano que formulou a teoria da evolução mil anos antes de Darwin" (link abaixo) me levou a escrever este breve texto. Leia o artigo depois volte ao texto pra mais uma gota de Sociologia ok?

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47577118

Pois bem, enquanto a Europa vivia sob a barbárie e temendo a Igreja (que mantinha a todo custo o monopólio do conhecimento, do tipo medicamentos contra o câncer, patentes de DNA e aceleradores de particulas), a China lançava foguetes, cruzava os mares e o Islã desenvolvia ciência a partir do legado dos gregos, trazido à luz  por Averroés, um tipo de Aristóteles das arábias. 
Então, depois que o mundo árabe foi cooptado pelas Guerras ao Terror da época - Europa's First acho que era o lema! - sob a alegação, vejamos... de que os infiéis tinham armas químicas em Jerusalém, o mundo branco conheceu um renascimento das ciências e das artes, separando-se gradualmente (mas não totalmente, pq ninguém é besta), do misticismo. 
Ao mesmo tempo, o mundo árabe começava sua desagregação e decadência política e econômica, afundando-se... aaiin...no fundamentalismo religioso... Era um tal enrosco de guerras intermináveis que os barbarizou, afastando-os da ciência, das artes, da tecnologia e, consequentemente, do desenvolvimento. 
Muito tempo depois, sempre que o mundo árabe tenta fazer as pazes e unir-se para fazer ressurgir seu passado glorioso (Panarabismo), tendo como modelo inspirador o grande Saladino, com terroristas como Nasser, Sadat, Kadafi, Sadam, Assad, acabaram tomando porrada, tiro e bomba do Mundo Livre Oil Co. S/A. 
Mas hoje em dia, com internet, tradutor automático e instantâneo, suco de uva de soja e um pouco de criatividade e ousadia é bem mais divertido compreender a história. Ah sim, e a China? Bem, com quase 2 bilhões de Jet-Li atômicos ninguém é besta de mexer ali né? E agora, depois que acordou do boa-noite Cinderela dado pelos ingleses, ninguém segura... Yes, We can!... ah tá...

domingo, 26 de novembro de 2017

E educação pública de São Paulo na UTI


Fonte: https://www.logisticadescomplicada.com/gerenciando-a-capacidade-em-utis/

Segundo dados da Secretaria de Educação do Estado de são Paulo, conforme o site G1, o número de professores afastados por transtornos em SP quase dobra em 2016 e vai a 50 mil. (leia a íntegra).
25mil profesores foram afastados por transtornos mentais em 2015 e 50mil em 2016. O dobro! em um ano! Esse número representa 37% do total de professores em licença médica por motivos diversos em 2016. Ou seja, há portanto um total de 137mil professores afastados em licença médica!. Isso, por si só, já é um absurdo! Pensar que esta massa de profissionais - a classe de profissionais mais qualificada, embora mais mal paga do país - esteja temporária ou permanentemente inválida é, além de uma crueldade, uma perda irracional de recursos humanos e econômicos.
Mas a reportagem citada não leva em conta aqueles professores que se exoneram. E são muitos. Mas não entram nessa estatística, pois saem do sistema. E muitos destes exoneram-se no primeiro ano de trabalho no cargo. Mas será que os motivos que levam um profissional a se exonerar de um tão sonhado cargo público, agindo dessa forma tão "inconsequente", logo no início da nova carreira, seria tão diferente daqueles motivos que levam anualmente milhares de professores à licença médica tão traumática?
Creio que não. Mas essa é apenas uma reflexão que precisaria de dados consistentes para ser melhor fundamentada e exposta. Por ora, deixemo-la de lado, deixando de lado também os números de professores licenciados por outros motivos que não sejam médicos, como aqueles que se licenciaram sem vencimentos (pela 202), muitos por stress e cansaço físico e emocional, que escolheram "dar um tempo" na carreira para repensar se tudo isso vale a pena mesmo... e voltemos à análise daquilo que traz a notícia do início desta semana.
São 137mil professores em licença médica, ou seja, mais da metade do professorado estadual paulista que é de 206mil professores (efetivos+temporários, dados de 2016) estão doentes. Mas isso não significa necessariamente que aqueles que permanecem na lida estejam gozando de excelente saúde. Mas o fato é que mais da metade - ou melhor, 60% - foram empurrados para fora do sistema educacional e inseridos no sistema de previdência e assistência por causa da insanidade daquele sistema de onde foram expulsos pela cruel realidade das escolas paulistas de hoje.
Agora façamos uma pergunta simples: como pode um sistema funcionar com mais de 60% de disfuncionalidade? Poderia um sistema, seja ele qual for: digestório, cardiovascular, capitalista, industrial, funcionar com déficit de mais da metade de seus órgãos/membros? O que aconteceria com um organismo cujo coração bate perfeitamente mas 60% das veias e artérias estão entupidas? Colapso e falecimento certo? Me corrijam os médicos se eu estiver errado e, caso esteja certo, alguns (ou todos) certamente irão dizer que nesse caso - seguindo mesmo a ética deontológica da medicina na qual o valor maior é a preservação da vida do paciente - seria lícito utilizar todos os meios possíveis para preservar a vida daquele que não se mantém vivo sozinho.
Pois bem, o sistema educacional público do Estado de São Paulo, em colapso há muito tempo, está agonizando na UTI. Sua saúde vem se agravando ao longo do tempo; vem respirando artificialmente apenas pela obstinação de cada vez menos heróis que ainda resistem na dura rotina escolar diária. É um sistema que utiliza-se da sonda gástrica da licença médica - que expurga o que não lhe é aproveitável. Mas vem recebendo, como profilaxia insuficiente, frequentes transfusões de sangue novo, como na chamada em out/2016 de mais de 20mil professores do concurso e novamente mais 7mil em Junho deste ano.
No entanto, este sangue novo, inserido no sistema infecto, fatalmente será em grande parte contaminado, para daí ser expurgado também nos próximos anos. Mas tudo bem. Tem muito sangue a ser utilizado ainda no banco de sangue dos concursos públicos oferecidos a uma classe de trabalhadores tão desrespeitada que se sujeita a arriscar a sorte nessa verdadeira roleta russa em que se transformou o sistema educacional público de São Paulo. Quem sabe consegue-se entrar numa escola "boa" onde não há agressões a professores (ao menos agressões físicas), onde as drogas não corram quase que abertamente pelos corredores e onde a direção seja minimamente eficiente no controle da indisciplina e na parceria com as famílias.
Enfim, essa é a política pública educacional deste governo que aí está a tanto tempo aplicando este projeto cruel de destruição da educação pública, ceifando a saúde (e a produtividade) de milhares de profissionais da educação e também o futuro de milhões de jovens estudantes.
Pois bem, ou exigimos definitivamente o restabelecimento da saúde da educação, com o fim dessa política criminosa e a adoção de uma política compromissada com a qualidade de vida dos professores e dos alunos (e isso é perfeitamente possível) ou então muito mais vidas e muto mais sonhos serão destruídos, até que se dê definitivamente a falência do organismo com a entrega do corpo aos urubus de plantão.

terça-feira, 7 de março de 2017

Capoeira e Pixo: duas artes, a mesma história.

Capítulo XIII - Dos vadios e capoeiras
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal;
Pena - de prisão cellular por dous a seis mezes.
Paragrapho unico. E' considerado circumstancia aggravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes, ou cabeças, se imporá a pena em dobro.

Art. 403. No caso de reincidencia, será applicada ao capoeira, no gráo maximo, a pena do art. 400.
Paragrapho unico. Si for estrangeiro, será deportado depois de cumprida a pena.

(Art. 400. Si o termo for quebrado, o que importará reincidencia, o infractor será recolhido, por um a tres annos, a colonias penaes que se fundarem em ilhas maritimas, ou nas fronteiras do territorio nacional, podendo para esse fim ser aproveitados os presidios militares existentes.
Paragrapho unico. Si o infractor for estrangeiro será deportado.)
Decreto número 847, de 11 de outubro de 1890


Após menos de 1 ano da proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil e pouco mais de 2 anos da edição da Lei Áurea, surge essa lei para “limpar” as ruas dos vândalos e arruaceiros. Assim como o Candomblé, a capoeira enquanto expressão cultural de um povo despossuído e intolerado, igualmente não foi tolerada pela sociedade branca, católica e “civilizada” de um país fundado sob os princípios republicanos por - e para - uma elite que tinha as mãos manchadas pelo sangue que escorria dos troncos e senzalas.

Depois de quase meio século de perseguição, em 1937, a capoeira foi liberada no país por um decreto-lei, no contexto de um projeto populista de ditadura tupiniquim que precisava do maior apoio popular possível para instituir um “estado novo”.       

Mestre Bimba de Salvador aos poucos foi saindo da clandestinidade e passou a ensinar sua arte, que logo foi aceita socialmente, valorizada e incorporada pela elite como uma prática esportiva e/ou uma dança exótica. Elevar à categoria de esporte e cultura exóticos é o  melhor meio de se desqualificar uma intolerada cultura genuína.

Descriminalizada oficialmente a partir do código penal de 1940 – o mesmo inclusive que se encontra atualmente em vigor, com algumas alterações – a capoeira, nascida no seio da senzala e utilizada como luta contra a opressão dos brancos e como expressão genuína da cultura negra transformou-se de forma radical; cooptada pela elite, foi embranquecida e transformada em dança, arte e esporte exótico de “exportação”.


Mas a capoeira é uma prática social que nasceu da real necessidade de uma população oprimida e explorada, em defesa a essa opressão. Uma opressão que vem se efetivando desde o plano material, físico, quanto no plano cultural, simbólico. Mas a pequena parcela da população que então dominava as dimensões políticas e econômicas da sociedade, em certa medida, não resistiu em manter seu projeto de repressão e eliminação dessa manifestação popular genuinamente preta que, ao contrário do esperado pela elite, só ganhava força na medida em que era violentamente reprimida. Foi um conflito incendiário, abastecido com a lenha do descaso do governo com a real situação social dos capoeiras, os negros brasileiros do início do século XX, brutalizados pela sociedade brasileira republicana.

O governo da época – composto pela elite branca, católica, asséptica e “civilizada” – ao perceber sua derrota frente à cultura popular que resistia ao extermínio, preferiu mudar sua estratégia, transformando a capoeira em uma modalidade esportiva para assim, conferindo-lhe certo reconhecimento e, portanto, certo valor social, circunscrevê-la a um espaço social determinado, para que pudesse enfim, dessa forma, controlar os efeitos de sua prática. Aceitar para poder controlar. Valorizar sua forma para poder esvaziar sua essência.

Passados quase um século desse movimento de aculturação, a capoeira, expurgada dos componentes políticos de resistência, transgressão e rebeldia que lhe caracterizavam desde sua origem, foi cooptada pela cultura dominante e circunscrita, até hoje, a uma simples prática corporal exótica, uma dança típica, uma “contribuição” dos africanos à cultura nacional, um símbolo da cultura “brejeira e marota” do povo brasileiro. Só lembrando aqui que o uso desse termo “contribuição”, tão comum em livros didáticos ao tratar do tema da formação do povo brasileiro, serve a um propósito ideológico. Segundo o dicionário Aurélio, “contribuição” é “concorrer para um fim; cooperar”. Não é preciso nenhuma teoria, além da pura lógica, para admitir que os escravizados não queriam cooperar com a escravidão.

De forma asséptica, segura, com rigor, eficiência e com o apoio das massas dos “cidadãos de bem” que julgaram estarem certos, foi-se higienizando tudo que era “sujo e feio”; foi-se vacinando todos os “doentes” e conspurcados, já não tão revoltados como outrora; foram-se construindo cidades limpas e “lindas”, conforme a estética fascista, no caminho para a ditadura que, felizmente, não chegou a se consolidar por completo, apesar de ter sido bastante sangrenta, a despeito de os livros de história insistirem em minimizar tais fatos, relativizando-os pelas conquistas trabalhistas advindas daquela era populista.

E hoje, enquanto turistas estrangeiros se extasiam no Brasil diante de da capoeiral, vislumbrando-as tal qual uma atração circense, entre um sarapatel e um bobó de camarão, regados a cachaça (aliás, outra “contribuição” cultural dos escravizados e que virou também “produto” de exportação) enfim, enquanto a elite global se empanturra em chiquérrimos restaurantes típicos de padrão internacional, as famosas academias oferecem o ensino e a prática dessa arte, são frequentadas, em sua maioria, pela classe média que pode pagar por suas salgadas mensalidades. Lembrando que classe média é branca.

A capoeira hoje é um esporte que luta para ser reconhecido como esporte olímpico no mundo dos brancos. Mas, onde ficou a capoeira enquanto luta? Enquanto uma forte expressão da cultura negra?.

Enquanto a capoeira vai pra boutique de exportação, os pretos pobres das favelas, jovens herdeiros das senzalas brasileiras, são os mais afetados por esse apartamento. Muito mais do que qualquer outro brasileiro, são eles os verdadeiros excluídos da própria cultura.     

E quanto à pixação? O pixo tem profundas semelhanças com o movimento da capoeira, tanto em sua origem social quanto em sua motivação política.

A lei, num primeiro momento, criminaliza, para logo a seguir, regulamentar essa prática de “sujar” o patrimônio alheio. Segue a mesma lógica tradicional de que, se não é possível combater e eliminar, é preciso regulamentar para controlar. Vejamos a evolução desse movimento social a partir da evolução da transformação dos códigos e das normas legais que regulamentam esta matéria.  

Lei 9605 de 12 de Fevereiro de 1998
Art. 65. Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de seis meses a um ano de detenção, e multa.

Lei 12408 de 25 de Maio de 2011.
Art. 6o  O art. 65 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 65.  Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1o  Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa.
§ 2o  Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional.”

Como se pode perceber, assim como a capoeira, a pichação, o grafite, a dança de rua, o funk, o rap, entre outras manifestações culturais genuínas, são expressões da cultura dos oprimidos que nasceram da luta do povo contra a opressão, principalmente no espaço urbano, no qual há muito tempo se concentra a população brasileira, com suas diferenças e seus conflitos.
 
Seguindo um movimento legal-institucional semelhante à capoeira e sua lenta absorção pela cultura dominante (a branca), até bem pouco tempo essa prática de marcar os muros alheios com tinta era criminalizada, pois feria o princípio central do direito civil que é a propriedade privada. Em maio de 2011 o grafite passou a ser tolerado pela legislação – diga-se, pela sociedade – enquanto o pixo continuou a ser criminalizado.

Agora, grafite e pixo são a mesma coisa? Os grafiteiros são pichadores. Até bem pouco tempo grafite e pichação eram criminalizados da mesma forma. Em função de um movimento ideológico promovido pelas elites, de diferenciação cultural entre pixo e grafite, iniciou-se um processo de aceitação social da modalidade então denominada de grafite e criminalização do pixo. O grafite foi “elevado” a categoria de arte enquanto o pixo continuou sendo criminalizado. Assim como o rap ácido de Sabotage - assassinado por traficantes - hoje se tornou um produto caro e bem pago pela indústria cultural, o hip hop, o break, a street dance, são expressões culturais conhecidas como arte de rua ou arte urbana. O pixo é o grito de rebeldia e de socorro de uma juventude excluída, que ali encontra um dos únicos canais de afirmação de sua identidade, deteriorada pela sociedade que os exclui e insiste em confina-los, cada vez mais, nos guetos, nos espaços de convivência periféricos e desvalorizados socialmente. É o grito de socorro de quem permanece invisível – a não ser nas estatísticas policiais – e se esforça para se fazer perceber na sociedade que tem (e dá) valor.
Todas estas manifestações, inclusive o pixo, fundamentam-se na crítica social contra a desigualdade, a discriminação e a repressão policial. Quando a manifestação destas formas artísticas se dá, em geral, dentro de certas regras sociais, certos espaços e tempos definidos, de forma planejada e, por vezes, consentida, é aceita socialmente. Nesse sentido, o grafite é aceito socialmente e, por este motivo, não se coloca, em geral, fora das regras sociais. O grafiteiro “deixa” de ser o pixador. Tem certo prazer em dizer que “já não faz mais aquilo”, que agora “faz arte e não sujeira”. Já o pixo não é arte. O pixo é feio, pois expressa o lado feio da sociedade. É a expressão legítima e simbólica da luta de classes. Esse é o lado feio e sujo da sociedade. A sujeira que a elite sempre se esforçou em esconder. A repressão aos pixadores é, portanto, a expressão concreta da luta de classes na medida em que provém da parte que detém o poder contra aquela que é oprimida e, principalmente, que tenta, de alguma forma, ainda que simbólica, resistir à opressão.
A repressão aos capoeiras foi tanto mais agressiva quanto maior for o dano causado no patrimônio público ou particular. A repressão aos pichadores também seguirá essa mesama lógica de século e meio atrás, pois a luta de classes de hoje é a mesma luta de classes de século e meio atrás, quando Marx a descreveu, e é a mesma que ele mesmo afirmou existir desde sempre na história. A história da humanidade é a história da luta de classes. Muitos já tentaram, mas os fatos demonstram que é impossível falsear essa hipótese. Portanto, até que se prove o contrário, a luta de classes como motor da história é uma verdade cientificamente comprovada pelas ciências sociais.
Portanto, a cruzada contra o pixo, promovida pelo atual prefeito asséptico e arrumadinho da capital paulista é simplesmente a nova cara, a nova expressão da velha luta de classes, cujos atores, inclusive, são os mesmos; de um lado os poucos herdeiros da casa grande quatrocentona (de uma das quais Sua Excelência descende, inclusive) e de outro, a enorme massa dos despossuídos e bestializados de sempre.

Estamos vivendo tempos sombrios, mas a luta é grande e o inimigo muito astuto. Não devemos perder o foco e nos perdermos nos emaranhados de conceitos e ideias “bacanas” e sedutoras que só servem para nos iludir. Grafite e Pixo não podem ser diferenciados ideologicamente sob pena de esvaziamento cultural e perda de sentido histórico e simbólico de UMA manifestação cultural genuína e repleta de significado social e político. Não podemos deixar que ocorra a mesma coisa que aconteceu com a capoeira.
Pixo é arte. Grafite é pixo. A arte é dita pelo povo brasileiro, que é preto, pobre, sofrido e genial. A arte não pode ser ditada por um burocrata de gabinete, filhote da burguesia e da ditadura branca.

Diga Não! Diga não à essa perversa diferenciação ideológica que querem impor. Dividir para poder dominar. Criminalizar o Pixo e aceitar o grafite é uma estratégia perversa. A divisão de uma classe social é a principal arma da casa grande para desmobilizar a luta. Ao “elevar” uma parcela de uma classe a uma categoria “superior”, a elite golpeia ferozmente o movimento. Grafiteiros: não caiam nessa armadilha! Não se deixem seduzir pelo canto da sereia! Mantenham-se fiéis ao movimento! Vocês não serão melhores nem mais artistas que os pixadores! Vocês são os próprios pixadores!. Com essa estratégia a elite visa matar dois coelhos com uma só cajadada: controlar os “artistas” grafiteiros e prender os “criminosos” pixadores. Como a muito tempo não se vê nesse país, a elite treme com vocês! Vocês metem medo na elite! Vocês são os jovens que ocuparam as ruas em 2013! E não foi só pelos 20 centavos! Vocês são os jovens que ocuparam as escolas em 2015! Vocês são a única esperança desse país! Não se deixem enganar nem por este e nem por outra tentativa sórdida de desmobilização que vem do andar de cima!


 Pixo é arte! Só existe pixo! Não se deixe enganar! Grafite não existe!





Fonte das imagens:




quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Fera ferida: PCC strikes again?

fonte:


Em 2006 Marcola e a cúpula do PCC foram transferidos da Penitenciária de Avaré para o Presídio de Pres. Venceslau. A capital e todo o Estado de São Paulo conheceram a fúria do Primeiro Comando da Capital no evento que ficou conhecido como Crimes de Maio, com um saldo de 564 mortos, sendo 59 policiais e agentes públicos. O caos social se instalou em toda a população paulista em função da sensação de insegurança diante da violência do crime organizado e da impotência do Estado em garantir a lei e a ordem. Segundo o ex-Delegado Geral da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo, “a ordem foi ir pra cima. Você tinha que apagar a fogueira. A polícia deu a resposta”.(1)

Pouco mais de dez anos se passaram e a maioria dos crimes de maio ainda está sem solução. Essa situação acabou gerando o movimento Mães de Maio, que luta para provar a inocência de seus filhos mortos e por justiça contra o excesso de violência das forças policiais.(2)

Pouco tempo depois de Maio de 2006, o Estado paulista retomou o controle da situação após garantir que os líderes do PCC não seriam torturados na prisão(3). Apesar do governo de SP negar que isso tenha sido um “acordo com bandidos”, o fato é que as ações do PCC, desde então, se mantiveram dentro da normalidade, ou seja, sem comprometer a autoridade do Estado (quer dizer, em termos weberianos, sem comprometer o poder do monopólio legítimo da força física do Estado).

Nesses dez anos de “calmaria”, a população carcerária no Brasil aumentou quase 50%, estando entre as quatro maiores do mundo(4). Foi nesse tempo também que o PCC estendeu seus domínios por quase todo o Brasil e extrapolou os limites nacionais, já atuando em outros países da América do Sul(5). Já a polícia brasileira – especialmente a paulista – conseguiu nesta última década a proeza de se tornar a polícia que mais mata no mundo(6).

Enfim, tudo caminhava normalmente e de forma controlada na guerra cotidiana; para cada policial morto, por exemplo, quatro pessoas iam tombando(7). Para alguns governantes, essa é uma contabilidade exitosa. Mas em 14/12/2016, a pouco mais de duas semanas, o vespeiro foi balançado. O núcleo do PCC, incluindo Marcola, foi transferido do Presídio de Pres. Venceslau para o Presídio de Pres. Bernardes, ficando em regime disciplinar diferenciado (RDD), que é a forma mais rígida de isolamento carcerário.(8)

Vespas a mil, zangões incomunicáveis, eis que, em pouco mais de duas semanas após o isolamento das cabeças dessa Hidra paulista, no 1º dia de 2017, uma rebelião no Complexo Presidiário Anísio Jobim em Manaus acaba com um saldo de 56 mortos, vários decapitados e, incrivelmente, todos membros do Primeiro Comando da Capital paulista, lá no coração da selva amazônica.(9)

Esse fato curioso revela que existe algo a mais nessa rebelião de presidiários. Revela que há uma formidável guerra sendo travada entre facções no submundo do crime organizado no Brasil; uma guerra pelo controle de território, poder e influência. E como toda guerra, é sangrenta e funciona com a mesma lógica que orienta qualquer outra disputa por poder; a lógica das alianças, acordos, traições, violência e morte.

Não é difícil concluir que, aproveitando-se do momento de fraqueza do PCC, as facções criminosas CV (Comando Vermelho) do RJ e a FDN (Família do Norte), se uniram para frear o incrível avanço do PCC, notadamente na região Norte do país. Agora, como um rato no canto da parede sob as garras dos gatos, o PCC é acuado em Manaus.

Essa que já é considerada a maior rebelião de presos do país – desconsiderando Carandiru que foi, na verdade, um massacre do Estado, uma “limpeza” em moldes fascistas tupiniquins – ela não é uma rebelião qualquer de presidiários reivindicando melhores condições ou manifestando-se contra a superlotação como já dito. É um episódio que revela uma audaciosa operação do crime organizado na luta pelo poder. Faz parte de um conflito travado num espaço prisional mas que, de fato, reflete-se em nosso próprio espaço de vida cotidiana; o crescimento do crime organizado reflete o crescimento dos furtos em nossa vizinhança, dos roubos e latrocínios diários, dos brutais assassinatos, execuções e também das simples “passadas” de droga em uma “boca” qualquer; reflete-se nos acordos e conchavos corruptos palacianos e também nos socos, pontapés e estupros das putas nas ruas, das próprias esposas dentro de suas casas e de suas crianças.    

É evidente que a luta contra o crime organizado é dificílima e não admite erros ou qualquer tipo de submissão. A sociedade precisa do Estado para haver segurança entre as pessoas e instituições. E o Estado precisa manter seu poder e autoridade para simplesmente existir. Mas esse poder e autoridade não pode ser ilimitado; é preciso que sejam respeitados os direitos e as garantias individuais e coletivas. Somos cidadãos, estamos em meio ao fogo cruzado nessa guerra e não podemos admitir danos colaterais ou balas perdidas.  

O PCC sofreu um duro golpe e está ferido, mas não está morto. Uma fera ferida é ainda mais perigosa, pois o que não mata fortalece... e enfurece. E a fúria é ainda maior quando se sente que o golpe sofrido foi desferido na “trairagem”.(10)

Enfim, como gato escaldado tem medo de água fria, passados dez anos de um mês de Maio em Estado de barbárie hobbesiana, a sociedade está novamente muito apreensiva. E o crime organizado, que cresceu no vácuo de um Estado silente quanto ao tráfico nas portas de escolas, quanto à passagem de armas nas fronteiras e quanto à permissividade de celulares e armas dentro dos muros das cadeias, já é muito maior e muito mais preparado do que há uma década. E voltando a falar em Estado, esse não pode falhar!... não novamente.


Notas:


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Entenda (?) o conflito na Síria






Estados Unidos
Contra: Bashar Al-Assad e Estado Islâmico (EI).
Apoia: grupos rebeldes considerados moderados e os curdos. É líder de uma coalizão militar “árabe” contra o EI, formada por Arábia Saudita, Bahrein, Jordânia, Catar e Emirados Árabes Unidos.
Interesses: 1) políticos: consolidação da influência política no Oriente Médio com a pretensa queda da última ditadura árabe não islâmica na região; 2) militares: controle do território sírio, onde há a única base militar russa no Mediterrâneo; 3) econômicos: controle do território de uma gigantesca jazida de petróleo ainda inexplorada, entre Síria e Chipre.
Conclusão: Eu é que mando na porra toda!


Rússia
Contra: Estado Islâmico e outros rebeldes.
Apoia: Bashar Al-Assad.
Interesses: garantia do território onde está sua única base militar do Mediterrâneo e por onde passam importantes oleodutos e gasodutos russos, além de manutenção da zona de influência russa no Oriente Médio segundo a estratégia de equilíbrio do poder.  
Conclusão: Manda o krai!... aqui é ZL véi!... e quem disse que a Guerra Fria acabou?


Irã
Contra: Estado Islâmico e insurgentes sunitas
Apoia: governo de Bashar Al-Assad
Interesses: manter sua área de influência no Oriente Médio em oposição à Arábia Saudita e EUA.
Conclusão: vale tudo contra o Grande Satã (EUA)


Arábia Saudita
Contra: Bashar Al-Assad.
Apoia: rebeldes sunitas (inclusive do EI).
Interesses: parceira dos EUA (ué, mas EUA não é contra o EI?... será?), visa consolidar poder geopolítico na região, eliminando a última ditadura árabe não islâmica (Síria) e enfraquecendo seu maior rival (Irã), uma vez que Egito, Líbia e Iraque já tombaram sob o controle de seu aliado EUA e Mundo Livre S/A.
Conclusão: catioríneo dos EUA


Turquia
Contra: governo de Bashar Al-Assad e separatistas curdos.
Apoia: coalizão liderada pelos EUA e rebeldes.
Interesses: país árabe com pretensões de entrar na UE, aliado dos EUA desde os tempos da Guerra Fria.  
Conclusão: é um país dividido em dois continentes que possui uma eterna crise de identidade: não sabe se é ocidental ou oriental: Escolheu ser um habib baba-ovo dos EUA e da UE.


EI (ISIS)
Contra: todos os infiéis não pertencentes ao seu manicômiozinho
Apoia: ninguém
Interesses: acabar com os infiéis, inclusive os muçulmanos de verdade.
Conclusão: não tem conclusão; são apenas um bando de loucos com armas fornecidas por potências mais loucas ainda.  



E aí, entendeu?