A crise pela qual passa a
educação é culpa do professor. Todos sabem disso, inclusive os próprios
professores, que sentem ainda mais a culpa por aceitar essa culpa. Culpa por
ter que ensinar para quem não quer aprender; ou melhor, para quem não precisa
aprender (ou julga que não precisa). Culpa por ter que trabalhar pra quem não
quer pagar. Culpa por aceitar diariamente a humilhação de alunos, pais,
empregadores e até mesmo dos colegas de classe, uma classe trabalhadora que,
paradoxalmente se arroga o direito e o dever de ensinar e
"conscientizar" as pessoas, quando ela mesma deixou, a muito tempo,
de ter consciência de classe. Culpa por aceitar o salário mais baixo entre os
brasileiros graduados em nível superior. Culpa por insistir em ser, mesmo sem a
contrapartida de reconhecimento social e financeiro, a classe trabalhadora com
maior número de profissionais com especialização, mestrado e doutorado deste
país, ainda semianalfabeto. Culpa por procurar essa especialização extraindo os
recursos de seu próprio e minguado bolso - quase um desvio de verba em seu
parco orçamento familiar, ao competir com as bocas de sua própria família.
Culpa por deixar inclusive sua família de lado a fim de corrigir provas,
preparar aulas melhores e especializar-se. Culpa por aceitar as esdrúxulas – e por
vezes imorais - "estratégias" de ensino "adequadas" ao bom
desempenho dos alunos nas discutíveis avaliações externas. Culpa por permanecer
inerte, mesmo tendo o conhecimento de que há pouco mais de meio século o
salário e o prestígio social de um professor brasileiro equiparava-se ao de um
juiz de direito. Culpa por não enxergar suas verdadeiras culpas e aceitar que sua
única culpa é não assumir - dadas as reais condições - a impraticável formação
docente contínua. Culpa em carregar a culpa por alienar-se à ideologia dominante desse neo divide et impera no qual se
transformou o sistema educacional, com a selvageria das atribuições de aulas e
dos demais processos docentes; processos que objetivam dividir a classe trabalhadora
pensante, que objetivam castrar sua autonomia, seu livre pensar e a livre
associação saudável e garantida por lei. Essas são as verdadeiras condições
fundamentais e insofismáveis do ofício de professor. O dia em que os
professores retomarem sua consciência perdida e agirem como mestres que
verdadeiramente são, nenhuma amarra construída por esse sistema de
divisão-degeneração-autoengano poderá conter a única e verdadeira revolução que
queremos e que o país precisa urgentemente: a revolução na educação. Portanto,
sabendo que nenhuma revolução vem de cima pra baixo, é chegada a hora de agir. E
agir é apenas assumir sua própria postura perdida, é ser o que deixou de ser há
muito tempo. Ser professor. Sinta no coração a força de seu ofício e apenas seja
um professor, de corpo e alma.
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