quinta-feira, 3 de julho de 2014

A culpa é do professor






A crise pela qual passa a educação é culpa do professor. Todos sabem disso, inclusive os próprios professores, que sentem ainda mais a culpa por aceitar essa culpa. Culpa por ter que ensinar para quem não quer aprender; ou melhor, para quem não precisa aprender (ou julga que não precisa). Culpa por ter que trabalhar pra quem não quer pagar. Culpa por aceitar diariamente a humilhação de alunos, pais, empregadores e até mesmo dos colegas de classe, uma classe trabalhadora que, paradoxalmente se arroga o direito e o dever de ensinar e "conscientizar" as pessoas, quando ela mesma deixou, a muito tempo, de ter consciência de classe. Culpa por aceitar o salário mais baixo entre os brasileiros graduados em nível superior. Culpa por insistir em ser, mesmo sem a contrapartida de reconhecimento social e financeiro, a classe trabalhadora com maior número de profissionais com especialização, mestrado e doutorado deste país, ainda semianalfabeto. Culpa por procurar essa especialização extraindo os recursos de seu próprio e minguado bolso - quase um desvio de verba em seu parco orçamento familiar, ao competir com as bocas de sua própria família. Culpa por deixar inclusive sua família de lado a fim de corrigir provas, preparar aulas melhores e especializar-se. Culpa por aceitar as esdrúxulas – e por vezes imorais - "estratégias" de ensino "adequadas" ao bom desempenho dos alunos nas discutíveis avaliações externas. Culpa por permanecer inerte, mesmo tendo o conhecimento de que há pouco mais de meio século o salário e o prestígio social de um professor brasileiro equiparava-se ao de um juiz de direito. Culpa por não enxergar suas verdadeiras culpas e aceitar que sua única culpa é não assumir - dadas as reais condições - a impraticável formação docente contínua. Culpa em carregar a culpa por  alienar-se à ideologia dominante desse neo divide et impera no qual se transformou o sistema educacional, com a selvageria das atribuições de aulas e dos demais processos docentes; processos que objetivam dividir a classe trabalhadora pensante, que objetivam castrar sua autonomia, seu livre pensar e a livre associação saudável e garantida por lei. Essas são as verdadeiras condições fundamentais e insofismáveis do ofício de professor. O dia em que os professores retomarem sua consciência perdida e agirem como mestres que verdadeiramente são, nenhuma amarra construída por esse sistema de divisão-degeneração-autoengano poderá conter a única e verdadeira revolução que queremos e que o país precisa urgentemente: a revolução na educação. Portanto, sabendo que nenhuma revolução vem de cima pra baixo, é chegada a hora de agir. E agir é apenas assumir sua própria postura perdida, é ser o que deixou de ser há muito tempo. Ser professor. Sinta no coração a força de seu ofício e apenas seja um professor, de corpo e alma.  

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