Os Nobel
Garcia Márquez e Nadine Gordimer subiram um pouco antes para preparar o salão
do sarau celeste. Rubem Alves subiu agorinha, e já aprontou o chá. Um pouco
antes dele subiu o imortal João Ubaldo Ribeiro pra por no forno o bolo de
aipim. E agora sobe outro imortal da Academia, o paraibano Ariano Suassuna.
Apesar de ter escrito bastante sobre o baiano no último post do blog, sempre se
tem algo mais a dizer face ao gigantismo da obra de mestres como ele. Ainda
mais num momento em que perdemos outro grande mestre. Portanto, serei breve.
Ariano e João foram dois brasileiros, nordestinos de peso no mundo das letras;
dois imortais acadêmicos que assinalaram a alma do brasileiro na própria alma dos
brasileiros. E foram além desse feito um tanto quanto provinciano. Extrapolaram
para o mundo a alma do brasileiro ao terem suas obras traduzidas em diversos
idiomas. Tornaram-se mestres globalizados. E isso não se deve apenas por terem
o merecido reconhecimento internacional de suas obras literárias, mas também
por terem suas obras adaptadas com sucesso por uma das maiores redes de
comunicação do mundo: a Rede Globo. Quem não se lembra do Auto da compadecida e
da Pedra do Reino do Ariano Suassuna que, com o Sorriso do Lagarto do
companheiro João, foram algumas das pérolas mais preciosas produzidas pelo já decadente
império dos Marinho ?
O excesso de
refilmagens e a “inexplicável” queda de audiência da novela do momento são
expressões evidentes da decadência global. E, se essa decadência não é
consequência da indiscutível qualidade técnica, cenográfica e material da
chácara da Pedra Branca, então de onde vem ? Só pode vir da absurda falta de qualidade
dos roteiros, consequência da falta de originalidade e criatividade de um bem
não material, que rareia cada vez mais no mercado: a ousadia de escrever de
verdade. Não "a verdade" mas "de verdade". O bom escritor é aquele que consegue contar grandes mentiras com
muita verdade. Faltam boas histórias,
bons enredos, bons personagens. E isso não se dá pela escassez de boas cabeças,
pois quase todas aquelas que dirigem as penas – ou melhor, os mouses - são
altamente preparadas, graduadas e com PhD. O fato é que aquilo que escasseia atualmente
é a própria verdade, a verdade das letras que se imprimem no papel. Pois
verdade não vem apenas com um canudo abiscoitado no além-mar; a verdade vem é
do coração.
Ariano
Suassuna é outra manaíba de macaxeira, daquelas de excelente safra, que desce hoje
à terra, tão revolvida e nem bem assentada ainda das últimas lavras.
Definitivamente, é um raro exemplar da derradeira safra de alta casta. Uma seara
que nos brindou com suculentos frutos em páginas ora doces, ora salgadas, ora
apimentadas, com folhas tão carnudas quanto as palmas do sertão da Paraíba, tão vigorosas
quanto o grosso leite das cabras secas do primo Manuelito da fazenda Carnaúba, tão porretas quanto as raízes de mandioca da viúva monção, do colega João, companheiro das longas
tardes regadas a chá e bolo de araruta no salão nobre do Castelo fluminense.
- Colegas,
arrastem o sofá do velho pra um canto e vamos soltar o forró nesse salão ! - É
o que deve estar dizendo agora o grande e imortal Ariano Suassuna no Sarau no céu.
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