
Com o título mundial conquistado
pela equipe de futebol da Alemanha nessa Copa do Mundo da FIFA de 2014 aqui no Brasil, em pleno Maracanã, fica
evidente que apenas um jogador excepcional não é garantia de sucesso num jogo coletivo como o futebol. O último
bola de ouro da FIFA que levantou a taça do mundo foi o nosso baixinho Romário
em 1994. Cristiano Ronaldo foi embora muito cedo dessa copa e Messi lutou até o final, mas
o eficiente time alemão provou que futebol é eficiência, organização, empenho,
treino e trabalho em equipe, com tudo o que isso representa.
Esperemos que agora o público
entenda que o verdadeiro futebol não é feito de manhas, de malandragens, de
craques que se juntam a cada quatro anos como se fosse um rachão; que não é feito
de holofotes, nem de contratos publicitários milionários e nem de cabelos
pintados, bigodes estilizados ou bundas redondinhas. O futebol de hoje é feito
de trabalho, empenho, abnegação, planejamento e principalmente, humildade para se trabalhar em equipe.
A consagrada eficiência germânica
suplantou no futebol o vigor passional dos hermanos argentinos, e de todos os
latinos, inclusive dos europeus com tradição cultural latina, como a Espanha,
Portugal, Itália e França, que ficaram pelo caminho.
Segundo Max Weber, o grande sociólogo alemão (!) em sua clássica
obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, trabalho, empenho, planejamento
e abnegação fazem parte da ética protestante, pois são as condições fundamentais
para o desenvolvimento desse sistema econômico que hoje domina o planeta. Já a ética católica, uma ética da paixão (sofrimento), da sorte
(fortuna), do herói excepcional messiânico e mítico (Cristo) e, principalmente do mea culpa, ou da prática de "oferecer a outra face" não é adequada ao pleno desenvolvimento
de um sistema onde a competição, a eficiência e a maximização da produtividade são seus fundamentos.
Autores modernos buscam
explicar o sucesso estadunidense no plano capitalista - que destoa de todos os
outros países americanos ex-colônias - a partir de outro ponto de vista que não seja aquele clássico "colônia de exploração/colônia de povoamento". O caminho de Weber é adequado para ampliar essa discussão pois os EUA são um país essencialmente
protestante em oposição a todos os demais países (católicos) das Américas, alguns inclusive em estado deplorável econômica e socialmente, cuja explicação para suas misérias não se sustentam apenas na teoria do imperialismo. O fracasso de Che Guevara na Bolívia só reforça a fraqueza dessa tese determinista.
Mas isso já é outra história. Afinal, quem pode negar que hoje, mais do
que nunca, o futebol representa o próprio capitalismo ? O futebol de alto nível
está inserido em um ambiente altamente competitivo, que movimenta bilhões de dólares,
que produz atletas de alta performance, que tem por trás uma imensidão de
profissionais altamente especializados, que tem um objetivo simples e claro:
ser a melhor equipe para poder ganhar o jogo e o campeonato. O futebol hoje é o símbolo máximo do
capitalismo globalizado.
Tanto Brasil quanto Argentina -
dois dos principais países católicos do mundo; um o maior país católico do
planeta, o outro, a terra do próprio Papa - caíram sob os pés de dois dos principais
países protestantes do globo; países que se rebelaram à tirania católica das
indulgências, onde se originaram a Reforma Protestante de Lutero e Calvino:
a Holanda, que é um pequeno conjunto de terras construídas sobre o mar e que dominou o comércio
marítimo europeu no início da era moderna e a Alemanha, o país sem saída para o mar
que desafiou o resto do mundo por duas vezes.
Sem querer ser herege (?), pode-se
afirmar hoje que a ética protestante pode perfeitamente ser aplicada ao
espírito do futebol da atualidade. Nesse sentido, podemos tentar explicar
aquilo que parece não ter explicação nessa Copa do Mundo, principalmente para
nós, brasileiros, latinos e católicos, que observamos atônitos tanto a Alemanha
quanto a Holanda - sim, pois 3 a 0 também é goleada, ainda que ofuscada pelo vexame avassalador da blitzpanzer - ensacarem um Brasil chorão
e prostrado de joelhos, oferecendo a outra face e agradecendo não se sabe o que
ao misericordioso Salvador.
Entramos em uma nova era. Para quem conseguir ler nas entrelinhas desta Copa, deve compreender que é o fim da era dos solitários bolas de ouro da FIFA e o início da era de um novo futebol, um futebol verdadeiramente de equipe, da eficiência, que enterra definitivamente o já inexistente - ainda que muitos saudosistas tentem ressuscitá-lo "futebol arte"; é um futebol mais do que nunca alinhado à ética capitalista e portanto à a ética protestante.
Enfim, se quisermos ser hexacampeões devemos ser menos católicos e mais calvinistas. Com tudo o que isso representa e significa.
E para finalizar: parabéns Alemanha pelo
título mundial conquistado no templo do futebol na Copa no Brasil, o país mais
católico do mundo... por enquanto.
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